A seguinte apresentação é apenas um mapa. Ele tem suas limitações. Precisamos lembrar de que o processo do despertar não é linear, mas ele contém alguns desdobramentos que são comuns para muitas pessoas.
0. Antes do despertar:
Nós dormimos acordados, acreditando que somos as narrativas que usamos para nos descrever: filho, parente, mulher/homem, tenho essa profissão, sou geralmente feliz/ansioso/tranquilo, gosto disso e daquilo, acredito nisso ou naquilo, apoio esse movimento e não aquele, etc. Isso faz parte da nossa identidade que é a camada mais superficial. O problema é quando acreditamos que tudo que a gente é são esses papéis e narrativas. Isso nos leva à sofrimento garantido.
1. O início do despertar:
Começamos a questionar o status quo. Suspeitamos e até vislumbramos que existe algo a mais, para além daquilo que a sociedade capitalista nos fez acreditar, que existe uma fonte de felicidade que não depende de símbolos egoicos como poder, fama, status e dinheiro. Muitas dos nossos paradigmas mudam e nos tornamos buscadores espirituais, lendo livros, assistindo filmes, tomando psicodélicos, fazendo workshops de autoconhecimento, etc.
2. Hora de praticar.
Uma vez que estamos convencidos de que autoconhecimento é o nosso caminho, nós colocamos uma maior prioridade para isso na nossa vida. Começamos a criar novos hábitos e colocamos na prática conhecimentos e ferramentas que nos apoiam em aprofundar no caminho que escolhemos. Ainda nessa fase, nos identificamos como o buscador, como aquele que medita, aquele que reza, aquele que precisa se curar e melhorar. O nosso ego espiritual está ativo.
3. Eu sou o observador, a pura consciência.
Chega uma hora que cansamos da busca. Lemos um monte, participamos de retiros, cursos e formações, realizamos práticas diárias e mesmo assim continuamos nos sentindo insuficientes, limitados e sofrendo. Até que acordamos para o fato de que não somos o buscador, não somos aquele ego espiritual que procura por experiências transcendentais, não somos uma pessoa que precisa melhorar e curar.
Através de auto-investigação e meditação, entendemos que somos o puro sujeito e que nenhum conceito ou experiência pode nos definir. Somos o espaço consciente no qual todos os fenômenos e objetos aparecem e se dissolvem.
4. Além da dualidade:
Mesmo com a realização de que somos pura consciência, o observador intocável, infinito e ilimitado, ainda pode existir um senso sútil de dualidade entre aquilo que observa e aquilo que é observado, entre sujeito e objeto, entre transcendência e imanência. O próximo passo é dissolver o senso da dualidade que afinal é ilusória. Tudo o que nós percebemos, as sensações, emoções, pensamentos, todos os fenômenos, não só surgem da nossa consciência mas são feitos da própria consciência; são modificações da realidade mental que é a única realidade que temos contato direto. Essa é a realização não dual, o despertar para a nossa natureza essencial. Tudo, absolutamente tudo é consciência e você é isso.
5. Estabilizando o despertar.
Nessa fase, gradualmente o olhar não-dual sobre a realidade se estabiliza, fica mais claro e consistente de tal forma que neutraliza o sofrimento psicológico e se torna fonte de profunda paz, contentamento e liberdade. A expressão da nossa essência se torna algo natural e espontâneo marcado pelas virtudes de não-reatividade, amor e compaixão. A forma que isso se expressa em cada um é singular. Conseguiu identificar alguns elementos das fases na sua experiência? Fique à vontade para compartilhar as suas reflexões nos comentários!
~ Miho Mihov
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